Economistas alertam para possível recessão técnica no Brasil em 2025; entenda os fatores e impactos na economia nacional.

O que é rentabilidade: tipos e como calcular /// recessão técnica

Juros altos, inflação persistente e desaceleração global formam uma tempestade perfeita para a economia brasileira.

O Brasil pode estar prestes a enfrentar sua primeira recessão técnica desde o biênio 2015-2016. Após dois anos de crescimento expressivo sob o governo Lula, com expansão de 2,9% em 2023 e projeções de até 3,5% para 2024, economistas começam a acender o sinal de alerta. Há sinais consistentes de que o ciclo de crescimento pode estar se esgotando.

A combinação de fatores internos e externos têm pressionado a economia. A taxa Selic em níveis elevados, uma inflação resistente, o aumento das incertezas fiscais e a desaceleração global formam o que analistas chamam de uma “tempestade perfeita” para os próximos meses.

O que é recessão técnica?

Tecnicamente, a recessão ocorre quando o Produto Interno Bruto (PIB) recua por dois trimestres consecutivos. Isso significa uma retração real na produção de bens e serviços, com impactos diretos na atividade econômica: mais desemprego, queda nos investimentos e consumo enfraquecido.

Diversas instituições financeiras já incluem esse risco em suas projeções para 2025. Bradesco, Banco BV, Ativa Investimentos, Monte Bravo, Nova Futura e Tendências divergem quanto ao momento exato da recessão, mas consideram o cenário cada vez mais provável.

Sinais de deterioração econômica

Os indicadores mais recentes revelam tendência clara de desaceleração:

  1. Produção industrial – Recua há três meses consecutivos, com queda de 0,3% em dezembro. O setor manufatureiro enfrenta custos elevados de produção e demanda enfraquecida;
  2. Comércio varejista – Registrou retração de 0,4% em novembro, pior que o esperado. Famílias endividadas reduzem consumo diante dos juros altos;
  3. Setor de serviços – Apresentou recuo de 0,9%, surpreendendo negativamente os analistas. O segmento, que representa cerca de 70% do PIB, mostra sinais claros de arrefecimento;
  4. Confiança empresarial – O ICE da FGV caiu 1,8 ponto, para 94,8 pontos. Empresários demonstra pessimismo tanto sobre a situação atual quanto sobre as perspectivas futuras;
  5. Mercado de trabalho – Embora o desemprego permaneça em níveis historicamente baixos, o país fechou 535,5 mil vagas formais apenas em dezembro de 2024, número muito acima do esperado.

Juros como principal vilão

A política monetária é apontada como fator central do esfriamento. Com a Selic em 14,25% e projeções indicando até 15% ao ano, o Brasil opera com uma taxa real de juros próxima a 9%, uma das mais altas do mundo.

Com esse patamar, investimentos produtivos são adiados, o crédito encolhe e o consumo recua. O efeito é em cadeia: menos crédito, menos consumo; menos consumo, menos produção; e, consequentemente, menos empregos.

Especialmente para o varejo, dependente do parcelamento, o custo do crédito elevado atinge em cheio as vendas, num país onde boa parte da população depende de financiamento para consumir.

Timing da recessão divide analistas

As projeções sobre quando a recessão técnica ocorreria variam significativamente:

  1. Cenário mais pessimista – Monte Bravo projeta contração de 0,5% já no segundo trimestre, seguida por igual recuo no terceiro. Isso colocaria o país em recessão técnica a partir de julho;
  2. Cenário intermediário – Bradesco e Tendências apontam para recessão no segundo semestre, com quedas entre 0,3% e 0,6% no terceiro e quarto trimestres;
  3. Cenário mais severo – Banco BV estima contrações mais profundas: 0,5% no terceiro trimestre e 1% no último trimestre do ano.

Crescimento anual deve ficar abaixo de 2%

Mesmo com divergências sobre o timing, há concordância de que 2025 será um ano fraco para a atividade econômica. As estimativas variam de 1,5% (UBS BB) a 2,2% (Bradesco), indicando desaceleração relevante após dois anos de desempenho robusto.

Para 2026, as projeções são ainda mais modestas: crescimento médio de 1,72%, segundo o Boletim Focus. Parte dos analistas já fala em “década perdida”, caso o país não retome o crescimento de forma sustentável.

Inflação persistente limita ação do BC

A inflação segue acima do teto da meta e reduz o espaço para cortes na Selic. Projeções indicam um IPCA de 6,01% em 2025, o que deve manter a política monetária apertada por mais tempo.

O ciclo se torna vicioso: os juros altos reduzem a atividade, mas a atividade fraca não garante queda da inflação, especialmente com pressões de custos e expectativas desancoradas.

Lula entre o ajuste fiscal e a pressão por crescimento

O risco de recessão pressiona o governo Lula, especialmente com as eleições de 2026 no horizonte. A gestão enfrenta o dilema de manter o rigor fiscal e monetário ou adotar medidas de estímulo que podem reacender a inflação.

A recente reforma ministerial foi interpretada como tentativa de reforçar a articulação política. Ainda assim, 98% dos agentes de mercado ouvidos pela Genial/Quaest avaliam que a mudança não resolve os impasses de governabilidade.

Recessão à vista? País vive impasse entre freio econômico e incerteza política

Combinando fatores internos e externos adversos, o Brasil navega por um ambiente de elevada incerteza. A possibilidade de recessão técnica no curto prazo já não é descartada por boa parte dos analistas.
Os próximos meses serão decisivos para entender se a economia brasileira confirmará o pessimismo do mercado ou voltará a surpreender com sua resiliência. O debate continua aberto, e seus desdobramentos terão impactos significativos na política econômica e no dia a dia da população.

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